Enfim, vamos falar de rafting. Espero que vocês já o tenham praticado. Quem leu meu texto anterior “Fuga 2”, já viu que eu me joguei nesse esporte despretensiosamente – mas muito necessitada psicologicamente daquilo - e acabei ficando.
Hoje virou coisa séria: disputo brasileiro e já fiz pan-americano e mundial. Já já aposento o remo e permaneço somente no institucional (atualmente estou Presidente de uma associação ligada ao esporte). Por consequência, existem muitas demandas que a maioria não vê. Nem quem está com você na diretoria vê ou sabe de algumas metas e planos.
Muita coisa deve ser projetado, executado e esperado na “moita”. Como já diz aquele ditado “quem não sabe não estraga”. Ninguém, absolutamente ninguém, tem ideia da burocracia, do estresse, do jogo de cintura, do networking e dos gastos envolvidos – que muitas vezes são efetuados por nós mesmos, para que, no final de tudo, os frutos surjam e o resultado pareça aos olhos externos extremamente fácil de ter sido executado.
De qualquer forma, esse texto não é para falar do meu percurso institucional, mas do esporte em si
O rafting é um esporte ainda não-olímpico, que usa a seu favor as corredeiras dos rios para sua prática. O bote que, comercialmente, pode conter até nove pessoas com o condutor, passa por refluxos, ondas, corredeiras, quedas e, dependendo o risco, pode alcançar até o nível V ½. Um rio nível VI não é mais adapto à prática de rafting.
O rafting é praticado em várias localidades de São Paulo e no Brasil afora. Cito aqui algumas cidades que possuem esse esporte maravilhoso: Brotas (SP), Juquitiba (SP), Socorro (SP), Três Rios (RJ), Nova Roma (RS), Três Coroas (RS), Jalapão (TO), Sapezal (MT), Itacaré (BA), Extrema (MG), Chapada dos Veadeiros (GO), Jaciara (MT), Tibagi (PR), Foz do Iguaçu (PR), Indaial (SC), Apiúna e Ibirama (SC), Santo Amaro da Imperatriz (SC) e certamente outras localidades.
Já, falando do atletismo de alta performance, são poucas as cidades envolvidas. Contudo, uma cidade sempre acaba puxando atletas de outra cidade para se juntarem aos times principais que representarão o Brasil nos campeonatos. Muita gente do caiaque rema rafting, bem como, muita gente do rafting rema caiaque.
Adivinhem de onde é o meu time? Tá na cara, né? Óbvio que é de Brotas! Para vocês terem uma noção sucinta da importância desse esporte – apesar tanto da burocracia das leis de incentivo e subsídio quanto da ignorância e incompetência de quem as rege e executa (ou nem executa...) – o Brasil possui atualmente 10 títulos MUNDIAIS (!!!) e todos conquistados por um mesmo time, de Brotas, chamado Bozo d’Água, o qual, inclusive, encontra-se no Guinness Book como a equipe que mais ganhou títulos mundiais ininterruptos na história desse esporte
No início dos anos 2000, o atleta Lucas Coré, juntamente a outros atletas igualmente capacitados, montaram a equipe e o termo Bozo era devido aos cabelos grandes e bagunçados dos atletas que ficavam para fora dos capacetes igualzinho ao palhaço Bozo. Desde 2003, a equipe vem disputando vários campeonatos: Brasileiros, Copas Nacionais, PanAmericanos, Copas Internacionais e Mundiais, configurando-se, nos dias atuais, a equipe mais respeitada, a mais admirada, a mais estudada estrategicamente por atletas de outros países.
Não é à toa que é a melhor do mundo. E mesmo assim, incrivelmente, aqui no Brasil, ninguém sabe disso. Os rumores são insignificantes, pedir patrocínio é pior do que trabalho de parto, temos que mendigar 10, 20, 30 reais para conseguir pagar as passagens, estadas e comida.
Obviamente, dependendo do campeonato, às vezes garantimos alguns serviços, mas não se comparam aos gastos contabilizados. Ahhh, mas os atletas dormem em hotéis, tomam bons cafés da manhã, as refeições são fartas!!! Vocês não têm a pálida ideia: as equipes já dormiram em estádios com colchonetes no chão, em camping com frio de 10° graus com banheiros compartilhados (e água quente por timer!!), competindo dentro de um rio onde, muitas vezes, é de água proveniente de degelo, ou seja, sua temperatura pode ser de 3° graus, já se depararam com marmitas com comida requentada, às vezes nem proteína inserem na refeição, cafés da manhã com 1 misto quente e chá... E quando colocam uma prova logo após o almoço? Aliás, e quando a prova atrasa e ficam sem almoçar? Enche-se o bucho com maça, banana ou simplesmente com nada. E os deslocamentos então!!?? Já presenciei atletas tendo que carregar os botes da chegada de volta à largada para poderem cair no rio e competir novamente...
Enfim, o esporte – quando não falamos de futebol – é sacrificante. O estado não ajuda, a mídia muito menos e quem se propõe a realizar os campeonatos muito menos ainda. Há muita corrupção. Existem países que nos tratam melhor do que em “nossa própria casa”. E estamos falando dos melhores do mundo!
Apesar disso ser uma crítica, não é um problema isolado. É algo intrínseco da sociedade, de como tratamos o esporte, do valor que damos a essa prática tão importante. Uma sociedade ciente que a prática de esporte traz disciplina, resiliência, perspicácia, estratégia, orgulho, conscientização, organização, foco e tantos outros benefícios, é uma sociedade que come melhor, que precisa de menos remédios, que possui uma dependência menor do sistema de saúde e que sabe que nossas crianças ali estarão livres e seguras desse mundo tão cruel, frustrante e avassalador.
Pratique esporte. Pratique rafting. Pratique canoagem. Esporte é vida.
Giselli Oliva
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Fotos: Créditos Divulgação
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