A FUGA 2 | O esporte pode salvar vidas

Tem gente que já é atleta desde pequeno. 

Tem gente que catapulta. Eu sempre dancei. Fiz ballet, jazz, dança flamenca, contemporâneo, royal. Fiz natação, mas minha professora de dança disse que a natação alargava minhas costas e que eu tinha que me decidir entre as práticas. Eu escolhi a dança. Entrei para a faculdade. Parei tudo. O tempo passou, mudei de país, mudei de país de novo, minha vida mudou completamente e, finalmente, a filha pródiga retornou à casa. 

Em 2020, após o falecimento de meu pai, eu me joguei no trabalho. Tive dois burnouts entre 2021 e 2022 e, nesse ínterim, entrei como voluntária da causa animal em Indaiatuba – como já relatado em um outro texto. 

No final de 2022, eu e minha mãe passamos o Natal e o Réveillon em Brotas. Brotas foi uma surpresa na minha vida: passou de simples distração da fuga desesperada que eu tinha dos meus burnouts para o lugar onde todos os meus amigos achavam que eu estava morando! Eu nunca estava em São Paulo. Brotas tinha virado compromisso fixo na minha agenda. Inicialmente, Brotas era a cidade onde eu podia, semanalmente, exalar minha adrenalina, acumular dopamina e serotonina e daí, recarregada, eu voltava para São Paulo, minha realidade. 

Foi assim até quando fui convidada a participar, despretensiosamente, de um Campeonato Brasileiro de rafting, em abril de 2023. Pulei deste para um Mundial de rafting em julho do mesmo ano na Itália e, em novembro, participei de outro brasileiro que nos deu pódio para participar do Pan-americano de rafting em outubro de 2024, no Chile. Pois bem, você deve estar se perguntando: e daí? Sem querer parecer clichê, o esporte salva, o esporte faz você conhecer lugares e pessoas que você nunca imaginou. 

O esporte distrai, dá ânimo, transforma. O esporte melhora seu foco, sua imagem, alegra seu coração, lhe provê a adrenalina que a sua vida necessitava tanto sentir novamente. O esporte faz você ter novas rotinas, novos movimentos, novas descontrações. 

O esporte faz você querer se cuidar mais, faz-lhe mais disciplinado, mais estratégico, mais astuto. O esporte pode salvar vidas. 
Divulgação

Se falarmos em desenvolvimento social, o esporte pode tirar crianças e adolescentes das ruas, faz esses indivíduos buscarem novos objetivos, novos anseios. Bons atletas servem de exemplo. O atleta vitorioso, medalhista, somente sobe em um pódio porque treinou, se esforçou, obedeceu a tarefas disciplinares, abdicou das noitadas, do divertimento. 

Foi centrado, porque sabia que aquele esforço seria recompensado no futuro. Um atleta nunca é imediatista, sempre pensa a médio e longo prazo. Obviamente o poder público tem muito a aprender em relação à isso. O desleixo perante iniciativas para as categorias de base é gritante. Se falarmos então de esportes não-olímpicos, próprio como o rafting, é frustrante. Muitos atletas devem pagar do próprio bolso para as inscrições de um mero campeonato. 

O patrocínio e ajuda são escassos. Infelizmente o esporte não está no patamar que gostaríamos apesar de todos os benefícios: menos indivíduos entregues ao crime, procura por alimentação e hábitos mais saudáveis, filas mais curtas nos hospitais, menor dispêndio farmacêutico e, seguramente, uma sociedade mais civil. Estar envolvida com esporte é uma tarefa difícil e um trabalho de formiga. Não são só flores e há muito ego e incompetência por parte de alguns administradores. 

Contudo, são muito maiores os benefícios de sua prática. Por isso, eu agradeço por tudo o que eu passei, pois, se eu estou onde estou, se eu faço o que eu faço, se eu pude me redesenhar, se eu pude voltar a me abraçar, é graças a um passado que me guiou até aqui. 

Giselli Oliva
https://www.instagram.com/gisellioliva/ 
Para contato e palestras: personnelcahier@gmail.com

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